sábado, 5 de setembro de 2015

BAUHAUS



Um grupo seminal do pós punk, tidos como os 
"fundadores" do rock gótico. Uma banda que também ultrapassava os limites desses estilos. Um nome essencial para entender toda a efervescência criativa dos anos 80. Simplesmente Bauhaus.

Formado em 1978, em Northampton - Inglaterra, o grupo era composto por Daniel Ash (guitarra - o mentor do projeto), Peter Murphy (vocal) e os irmãos David J (baixo) e Kevin Haskins (bateria). O nome da banda faz referência ao revolucionário estilo de design (odiado pelos nazistas) lançado pelo arquiteto alemão Walter Gropius, em 1919 (aliás, o primeiro nome da banda foi Bauhaus 1919). Isso deu ao grupo um certo charme cult e uma misteriosa aura artística que também sugeria uma ligação com a decadência da Berlim da década de 1920. A escola Bauhaus também era tida como um desenvolvimento do Expressionismo. O estilo Bauhaus era associado com os artistas expressionistas que fizeram a iluminação e os cenários de filmes de horror alemães, como "O Gabinete do Dr. Caligari" e "Nosferatu". E foi a estética desses filmes que serviu de combustão para formar a alma e a identidade do Bauhaus. Sem saber, a banda estava lançando todo um legado.



No link abaixo, vídeo de um dos primeiros shows do Bauhaus, em janeiro de 1979:




"The shadow is cast".



O grupo foi "acusado" pela imprensa musical de tentar "ressuscitar" o glam rock, com toda sua teatralidade e androginia. Os críticos também os via como sombras pálidas de dois ícones considerados sagrados pelos jornalistas do rock britânico: O Bowie da década de 1970 e o punk rock. É claro que eles eram influenciados por David Bowie - a maioria das bandas do fim da década de 1970 e do início de 1980 tinha uma dívida criativa com Bowie - e pelo punk rock. Mas o Bauhaus agregou outros ingredientes variados e exóticos em sua alquimia sonora, criando uma infusão única (Goth Chic, 2006).






Em 1979, eles lançaram o single "Bela Lugosi's Dead". Curiosamente, a capa original não traz uma cena de Drácula e sim uma cena de "The Sorrows of Satan" (um filme mudo de 1925).


A faixa homônima - um tributo ao ator Bela Lugosi e sua aclamada interpretação de Drácula (1931) - é cheia de efeitos que simulam o som de asas de morcego batendo. Traz ainda um baixo sombriamente minimalista, microfonias de guitarra, uma bateria repetitiva e marcante, além de um vocal deliciosamente dramático. Assim é a canção em seus quase dez minutos: sombria e misteriosa. O cartão de visitas perfeito para o Bauhaus (ironicamente, os músicos também apontaram inspirações da brasileiríssima e ensolarada bossa nova na construção da música). Atualmente, existe um consenso de que esse foi o primeiro rock gótico lançado. Um verdadeiro hino! Após isso, o grupo assinou com a 4AD. Foi o primeiro grande lançamento da gravadora que depois se tornaria um dos selos alternativos mais elegantes daquele tempo, lançando nomes como Dead Can Dance, Cocteau Twins e Clan of Xymox. Em 1980, mais três singles foram lançados: "Dark Entries", "Terror Couple Kill Colonel" e "Telegram Sam". Mas o melhor ainda estava por vir, com o lançamento do primeiro álbum.



Um barril de pólvora incendiário, repleto de ritmos irregulares, letras ácidas e vocais descontrolados. 
Lançado em 1980, "In The Flat Field", vai além do que o quarteto já havia apresentado em seus singles de estreia. Em suas 9 faixas, esse álbum se mostra intenso, diversificado e coeso. Uma aula de simplicidade e crueza, sem soar banal. Destaque para os petardos sonoros: Double Dare e In The Flat Field; entre outras músicas marcantes como a contundente God In An Alcove, a enigmática Spy In The Cab, o tributo agonizante a Stigmata Martyr e o nervosismo crescente de Nerves. Essencial!




Em 1981, agora pela gravadora Beggars Banquet, foi lançado o segundo álbum: "Mask". Considerado por muitos o auge da banda, é também o álbum mais gótico da discografia do grupo. Apresenta um grupo mais maduro e um excelente repertório. As letras, dramáticas, também merecem destaque. Apesar de algumas faixas mais acessíveis, a atmosfera continua densa e o espírito criativo e artístico do pós punk cada vez mais pulsante. Repleto de faixas antológicas como o réquiem das paixões trágicas Passion of Lovers e o hino deliciosamente soturno Mask; além de outros destaques como a obscura Hair of the Dog, a profunda Hollow Hills, o swing de Kick in the Eye e a contagiante The Man With The X-Ray Eyes. 



O vídeo clipe expressionista de Mask - em nossa opinião, o melhor do Bauhaus. Clássico!




Em "Sky's Gone Out", lançado em 1982, nota-se um trabalho diferente dos anteriores, mais eclético e ousado. Claramente o grupo atingia o seu pico experimental. Como disse um crítico muito sagaz: "Se o gótico e a psicodelia se casaram em algum matrimônio profano, essa seria a marcha nupcial". Destaques para o cover de Brian Eno em Third Uncle, a insana Silent Hedge, a catarse teatral de Spirit
o épico progressivo em três partes The Three Shadows, a melancolia ao violão de All We Ever Wanted Was Everthing e a experimental Exquisite Corpse. Para ser ouvido sem preconceitos.


O single de Ziggy Stardust, lançado no mesmo ano, foi o maior sucesso comercial do grupo. Esse cover de David Bowie traduzia aquilo que o Bauhaus chamava de "Dark Glam".





Em "Burning from the Inside", lançado em 1983, as experimentações prosseguiram. Mas o grupo já demonstrava sinais de esgotamento. O fim da banda era iminente e inevitável e, de certa forma, isso já estava se refletindo na música. Independente disso, o disco tem bons momentos e merece atenção. O destaque maior fica para a inesquecível She's in Parties. A ótima Antonin Artaud reverencia outra forte inspiração da banda (o dramaturgo do Teatro da Crueldade). Além delas, também destacaria a delicada e meio spoken word Who Killed Mr.Moonlight? (na voz de David J) e Slice of Life (na voz de Daniel Ash). As ótimas Lagartija NickSanity Assassin, que sairam em single, também merecem citação.

Logo o grupo se dissolveria por completo. Dizem que o estopim da separação do Bauhaus foi a participação do grupo no filme The Hunger (Fome de Viver). Peter Murphy se tornou o centro das atenções à custa dos outros membros, que foram praticamente excluídos da cena em que participam. Existem muitas especulações em torno do término da banda - inclusive dois livros abordam esse tema: a biografia "Dark Entries", de Ian Shirley e "Who Killed Mister Moonlight?", escrito pelo ex-baixista David J. Mas não nos interessa aqui discutir os motivos do término da banda, talvez apenas lamentar...

Com o dissolvimento do Bauhaus, todos seguiram outros projetos, dos quais faremos um apanhado geral:



O Tones on Tail, formado em 1982, inicialmente era um projeto paralelo de Daniel Ash com seu amigo e rodie do Bauhaus, Glenn Campling. Com o fim do Bauhaus, o baterista Kevin Haskins juntou-se ao grupo. Lançaram apenas um álbum: Pop (1984) e alguns compactos. 

Com muitas músicas instrumentais, o som do grupo é uma mistura de post punk, pop rock, rock alternativo e alguns flertes com o rockabilly. Um crítico os definiu com maestria: "doom-and-dance-pop". Com apelo dançante e mantendo em algumas faixas a atmosfera dark do Bauhaus, é um grupo bastante apreciado pelos góticos.

Destaques para o maior dos hits, Go, além de outras úsicas de igual potencial como Burning SkiesLions e Performance (minhas preferidas).


Em 1985, após o término do Tones on Tail, Daniel Ash, Kevin Haskins e David J. criaram o Love and Rockets. Basicamente, era o Bauhaus sem o Peter Murphy. Mas o grupo afastou-se progressivamente dos temas obscuros e do pós punk, ficando mais acessível ao grande público. O som também é diversificado, fundindo rock alternativo e psicodelia com elementos da musica pop (os últimos lançamentos também apresentam uma sonoridade mais eletrônica). O resultado foi uma melodia envolvente, popularidade entre os "indies" da época e sucesso comercial. Lançaram sete álbuns e vários singles.

Destaque para o sucesso So Alive e outras faixas como Ball of ConfusionKundalini Express e No New Tale To Tell.





O Dalis Car foi formado em 1984, por Peter Murphy e Mick Karn (ex integrante do grupo Japan). Lançaram apenas um disco: The Waking Hour (1984). A base do som era constituída por teclado e baixo e apresentava um forte apelo experimental. Após anos de hiato, a dupla ainda lançaria um EP em 2012, no último suspiro dessa aventura pouco explorada chamada Dalis Car.

Destaques: The Judgement Is The MirrorCornwall Stone, Create and Melt e Sound Cloud.




Daniel Ash, David e Kevin dando um rolê e fazendo um som pela cidade, vestidos de... abelhas (???).
 Esse foi o The Bubblemen - "projeto paralelo" do Love & Rockets. Lançaram 1 single em 1988.


Após a aventura experimental do Dalis Car, Peter Murphy lançou-se em carreira solo e alcançou o mesmo sucesso comercial de seus ex-companheiros de Bauhaus. Até o momento foram 10 discos lançados (considerando somente os de inéditas) e alguns reconhecidos sucessos, como: All Night Long, Indigo EyesCuts You Up A Strange Kind of Love.
É importante destacar ainda a pouco comentada carreira solo de Daniel Ash. Com 3 discos lançados, ele explora novos horizontes, como a chill-out, o dreampop e nuances eletrônicas, fazendo uma música que esbanja elegância e sensualidade. David J também traçou uma interessante carreira solo, explorando o jazz e outros ritmos intimistas, com colaboração de vários artistas como a pianista Jill Tracy e o quadrinista Alan Moore.




Durante a "hibernação" do Bauhaus, o grupo até chegou a se reunir algumas vezes, mas sem lançar nenhum material inédito. Em 1999, houve uma aguardada turnê registrada no DVD Gotham. E em 2008, após 25 anos sem inéditas, o Bauhaus finalmente se reuniu para lançar Go Away White. O disco comprovou que o grupo ainda tinha fôlego.
Apesar de distante do pós punk oitentista, o álbum traz um som renovado e moderno. É um rock cru, direto e bem executado por músicos experientes e seguros. Mesmo longe da minha fase preferida, mata a saudade. 
Destaques: Adrenaline, Endless Summer of the Damned, Black Stone Heart e The Dog's A Vapour. 

Bauhaus e o Gótico: Ainda que, com frequência, tenham rejeitado a "pecha" de góticos, é inegável que o Bauhaus esteve profundamente imerso nesse universo e seja considerado um dos "pais" do estilo. As referências traduzidas na sonoridade e no visual, além da performance, serviram de base propulsora para muitas bandas que surgiriam a seguir e também de inspiração para um emergente publico que consolidaria a identidade da moderna subcultura gótica. Um nome básico.




Matéria: Guilherme Freon

Fontes:
4AD - Site
Dark Entries - Livro
Goth Chic - Livro
Post-Punk.com - Site
Wikipedia - Site
Arquivo Pessoal Freon



ÁLBUNS DISPONÍVEIS:



 

6 comentários:

  1. A definição de "som dos anos 80" encontra sua expressão mais pura no gótico. Imagem também: limpa, depurada, asséptica, teatral, brilhante e sombria. Quase inumana, até artificial. E no entanto, belíssima em seus tons de azul metálico. Para o bem ou para o mal, Bauhaus.

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  2. Puta que Pariu! Bauhaus - Ziggy Stardust --- um caso raíssimo de uma cover de um clássico que SUPEROU o original "cartão de visitas pessoal". Porra, o David Bowie deve amar e odiar esses caras com a mesma intensidade. O baterista Kevin Haskins poderia destruir um planeta! E o magnífico Peter Murphy canta expelindo até a última gota de sangue, numa interpretação EXTREMA, muito mais passional do que o Camaleão. Parabéns, rapazes! Vocês são foda! BAUHAUS FOREVER!

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  3. O mais divertido é reparar como o Peter Murphy consegue ser um David Bowie melhor do que o próprio David Bowie... com a elegância fria, sofisticada e finíssima de Byan Ferry mais a selvageria animalesca de Iggy Pop, se contorcendo no palco com o dorso nu, totalmente feroz e fora de controle. Ele sugou tudo de melhor dos astros antigos e explodiu como uma supernova. O cúmulo da ironia é assistir Peter Murphy roubando a cena, cantando o clássico dos Bauhaus Bela Lugosi's Dead na sequencia dos créditos de abertura de Fome de Viver, o filme mais "anos 80" da década de 80, estrelado por David Bowie e Catherine Deneuve no papel de um casal de... vampiros.

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  4. Meu velho, eu enviei VÁRIOS artigos ilustrados meus sobre Cultura Pop e Bandas de Rock Gótico para o seu e-mail : gothicsongs@hotmail.com

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  5. Recebido, Ernesto. Obrigado, muito legal!

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